terça-feira, 2 de outubro de 2012

Certificados do Tesouro – Investidores patriotas ou kamikazes?

Foi notícia de destaque nos jornais económicos, o governo aumentou as taxas remuneratórias e o resultado foi uma corrida aos balcões dos CTT.

Em Agosto de 2012 foram subscritos 37 milhões de €uros (sendo que descontando os resgates, o saldo líquido foi de 32 milhões de €uros).
Só no dia 31 de Agosto de 2012 deram entrada 12.98 milhões de €uros, é verdade, houve 285 indivíduos que em média subscreveram 45.543€.

A razão de toda esta euforia são as taxas de juro oferecidas, a taxa bruta para quem mantiver o investimento durante 5 anos é de 6.8% e para 10 anos sobe para 7.1%.
Se o estado cobra 25% de taxa liberatória atualmente (IRS) quer isto dizer que o estado está a pagar 6.8% menos 25% a 5 anos e 7.1% menos 25% a 10 anos ou seja, os juros acabam por ficar nos 5.1% a 5 anos e nos 5.325% a 10 anos.

Ninguém no mundo empresta dinheiro a Portugal durante 5 ou 10 anos…
Eu vou repetir… Ninguém no mundo empresta dinheiro a Portugal durante 5 ou 10 anos…

Se ninguém nos empresta dinheiro a essas taxas deve ser por alguma coisa, não é verdade?
A cultura financeira dos portugueses foi testada com perguntas simples numa sondagem recente e 70% dos entrevistados apesar de ter contraído crédito à habitação não sabia o que era o SPREAD.

Este investimento é patriótico e de louvar, nos dias que correm o dinheiro escasseia para todos, estado incluído.
Mas…mas…

Para quem não acredita que Portugal fique no €uro olha para estes investidores e fica no mínimo pasmado.
Se existem pais que ao olhar para milhares de homens a marchar jurem a pés juntos que estão todos com o passo trocado menos o seu adorado filho que marcha corretamente, é igualmente aceitável que existam algumas centenas de portugueses que emprestem dinheiro a Portugal com 5% de juro.

É que mais ninguém no mundo faz isso!
Porquê?

Porque o risco é demasiado alto!
Deu para entender?

Não? Eu explico de outra maneira.
Ninguém empresta dinheiro a Portugal a 5 ou 10 anos porque ninguém acredita que Portugal dentro de 5 ou 10 anos pague!

Com exceção de algumas centenas de Portugueses, os nossos investidores kamikazes…
Claro que o estado honrará os seus compromissos, mas vai pagar em escudos que com a desvalorização deve valer perto de 20% a 30% do investimento inicial.

Não é um mau negócio, investir em euros para passados 5 ou 10 anos receber em escudos e perder entre 70% a 80% do investimento realizado.
Convenhamos que podia ser pior.

Espero estar completamente enganado, mas lá estou eu com o meu mau feitio…
Eu preferia comprar moeda de 4 ou 5 países, guardar tudo bem guardadinho dentro de um cofre da CGD (são 45€/ano) e depois de Portugal sair do Euro, logo voltava a trocar por escudos.

A única diferença era que os poucos milhares guardados em várias moedas valeriam milhões de novos escudos…
É a vida…

4 comentários:

Anónimo disse...

Caro Bipolar KAMIKASE ( HAHAHAHAHAHA )

Estou a brincar contigo, não és kamikase.
Mas fico a pensar o que amanhã o Gasparzinho vai falar.
Já li que vão criar um imposto sobre o patrimonio, tipo DERRAMA do seculo XVI ocorrida no Brasil, na época da extração de ouro em Minas Gerais ( O MALDITO QUINTO ).
Será que além de IMI vão criar outro imposto para extorquir dinheiro á classe média ????
Estes tipos estão a brincar com fogo .......... VÃO SE QUEIMAR FORTE E FEIO.
Quanto ao tema de kamikases, eu já tirei meu dinheirinho todo da banca, e o investi em bens bem seguros.
Um abraço.
DESTA VEZ É ANONIMO, COMPREENDES ..........

O Portugal Bipolar disse...

claro que sim...
:)

R+ disse...

Boas Jony, vou tentar explicar com o pouco que sei de economia.

Os bancos apenas têm taxas de juro por volta dos 3%, que depois dos descontos de 25; não sei a partir de quando 26.5; e depois quem sabe (com consequente fuga de capitais para o estrangeiro!) deve dar algo abaixo da taxa de inflacção.

Conclusao: ter dinheiro nos bancos, fica-se a perder pois quando a taxa liquida está abaixo da inflacção consegue-se comprar menos do que no momento do depósito.

Os sucessivos governos foram "comprados" pelo grande capital (banca?) para baixar os certificados de aforro, para empurrar as poupanças das famílias para os bancos.

Por outro lado, para o Estado pedir dinheiro, tem de se voltar para os grandes investidores, pagando o que estes quiserem receber...

Por exemplo: (de http://dinheirodigital.sapo.pt/news.asp?section_id=1&id_news=187773)

"Cerca das 09:30, os juros da dívida soberana portuguesa a dois e cinco anos praticamente não variavam, situando-se nos 5,084% e 7,016%, respetivamente"

"A 10 anos, os investidores pediam, no entanto, um juro médio de 8,944% para comprarem dívida portuguesa,"


Dá para comparar e ver que nos mercados, o Estado oferece melhores juros e a prazos muito mais curtos!!!! Nos certificados de aforro, nao percebo muito daquilo, mas deve andar pelos 2%

Conclusão: A banca e os mercados usam dinheiro barato (quer dos depositantes, quer do BCE) e obrigam o Estado a pagar ao valor que eles ditam.

Ao comum dos tugas, está bloqueada a galinha dos ovos de ouro, senão haveria muita concorrencia contra a banca e as taxas que o Estado teria de pagar eram mais baixas...

Mas nunca esquecer que como o Estado somos nós*, nós* é que vamos pagar isto tudo.

* este "nós" refere-se à classe média, pois os ciganos e outros parasitas similares apenas recebem e não pagam nenhuns impostos. A classe alta, tb nao pode ser atacada, pois ao menos estes pagam, e´proporcionalmente até pagam mais, mas se fugirem para países com menor carga fical, então TODOS os impostos vão ter de cair nos do costume.

Cumps

O Portugal Bipolar disse...

Boas R+,

Concordo com a maioria do teu raciocínio mas atrevo-me a incluir mais uma variável.
-Quando Portugal vai vender divida ao mercado o IGCP já avisou o mercado com meses de antecedência sobre o montante pretendido e a maturidade dos títulos.
Como exemplo Portugal volta ao mercado a 17 Out 2012; 21 NOV 2012 e 19 DEZ 2012 sempre com maturidades de 3/6/12 e 18 meses.
Já passaram vários anos desde a ultima vez que Portugal informou o mercado que iria vender dívida de longo prazo ( 5 a 10 anos).
Se não existe procura a oferta de juros pode andar relativamente baixa em relação ao risco do país, se os países informam com meses de antecedência as suas necessidades não é difícil arranjar uma agência financeira para descer a cotação de algo em Portugal se o IGCP se atrever a pedir dinheiro a 5 ou 10 anos…

Cumps