terça-feira, 9 de outubro de 2012

Carta Aberta ao Presidente da Câmara municipal de Ourique – Vamos falar de Agricultura?


 Olá Sr. Presidente, o meu nome é João e gostava de lhe falar um pouco sobre agricultura.
Desculpe lá qualquer coisinha, eu sei que estou a meter a foice em seara alheia, mas…sabe….é que… como contribuinte estou farto de pagar impostos e o projeto PIN aprovado por Vossa Excelência não lembra ao Diabo!

Já sei…vão vir charters de camones! Tudo cheio de vontade de jogar golfe a olhar para uma barragem de pequeno porte…

Será isso?
Vamos lá fazer umas contas de 2+2, pode ser?

Cada hotel tem capacidade para 300 pessoas, mais 100 do aparthotel e das 700 vivendas, vamos considerar 2 pessoas por vivenda.
Temos lotação esgotada com 2.100 pessoas, todos a pagar forte e feio para ter o privilégio de jogar golfe no meio do Alentejo, junto a uma barragem.

Terá lugar assegurado no circuito internacional de golfe e tudo.
Sr. Presidente, vamos lá descer à terra e falar de Agricultura.

O Sr. Presidente sabe que se pode plantar nos 502 Hectares reservados ao “resort”?
Sabe o que é plantar?

- Aquela coisa que se faz à terra para que ela dê frutos e tal…
O Sr. Presidente já ouviu falar de Olival ou de Vinha?

Porquê?
- Porque são das plantações que menos água consomem e maior rentabilidade podem apresentar, porque podem ser vendidas em fruto ( Uvas e Azeitonas) e podem ser transformadas (Vinho e Azeite)?

Já ouviu falar de azeite e vinho?
-menos mal…

Não falando em olival super-intensivo, por respeito à terra e por entender que a longo prazo não apresenta vantagens.
Mas, vamos falar de olival! Sim, porque não?

O Sr. Presidente sabe que o olival intensivo suporta 300 a 600 oliveiras por ha?
Sabe que cada oliveira produz 20 kg de azeitona, que por sua vez dão para 4 litros de azeite?

Sr. Presidente, já reparou que em 502 ha de terreno pode plantar 301.200 oliveiras?
Já reparou que essa área pode produzir mais de 1 milhão de litros de azeite, todos os anos, durante 150 anos?

Desculpe mas eu julgo que o dinheiro dos meus impostos deve ser bem aplicado e não contando com charters de camones preferia projetos que não descaracterizem o Alentejo e não seja dinheiro deitado á rua.
O Sr. Presidente já reparou que estamos a falar de 1.5 milhões de Euros todos os anos, durante mais de 1 século?

E vinha?
O Sr. Presidente sabe que 1 ha de terreno produz 4.000 a 5.000 kg de uvas?

Sabe que cada 15 kg de uvas dão para produzir 10 litros de vinho?
Já reparou que os mesmos 502 ha dão para produzir 2 mil toneladas de uvas?

Sr. Presidente, 2.000 toneladas de uvas, estamos a falar de qualquer coisa como 1.3 milhões de litros de vinho.
São no mínimo 2 milhões de euros/ano!

Não será mais rentável que esperar por turistas milionários com fetiche de golfe & barragens?
Não se preocupe com o projeto, sabe, é que a TAG “Senhor dos Anéis“ vai entrar na agricultura e nada melhor que terrenos vastos, planos e semiabandonados para começar, e isso o seu conselho tem para dar e vender, sr. Presidente…com todo o respeito!

Vamos lá usar a cabecinha, para variar.
O 1º passo é garantir água do Alqueva ligando a barragem do Roxo á barragem do Monte da Rocha (2015/2017), são 30km (a amarelo).

Para 2012 vamos já dividir os 502 hectares em duas parcelas, uma de 252 ha (vinha) e outra de 250 ha (olival).

No Olival vai plantar 5 espécies com 50 ha cada (Galega; Carrasquenha; Cordovil; Cobrançosa e Verdeal).
Para a vinha vamos reservar 200 ha para 10 castas de tinto (Alicante Bouschet; Aragonez; Afrocheiro; Cabernet Sauvignon; Castelão; Petit Verdot; Syrah;

Touriga Franca; Touriga Nacional; Trincadeira e Trincadeira das Pratas) e 4 castas de branco com 13 ha cada (Alvarinho; Rabo de Ovelha; Siria e Verdelho).
Sabe sr. Presidente, se plantar em 2012 em 2016 terá os primeiros resultados, tanto de uvas como de azeitonas entrando as uvas em 2017/18 em velocidade de cruzeiro, quanto ao azeite só em 2017/18 se poderá obter um rendimento de 40% a 50%, sabe sr. Presidente é que uma oliveira demora 20 anos a atingir a plena produção, mas depois, depois são 130 anos sempre a bombar…

Cordeais cumprimentos de um dedicado contribuinte (tem dias…)

Jony

11 comentários:

Anónimo disse...

A propósito do programa de governo de PB, ideias para as Florestas Portuguesas:

1 - Em 1.º lugar há que acabar com as imagens aterradoras que se repetem ano após ano (situação que aliás já foi recordada em PB) em que as pessoas de idade das aldeias do interior tentam desesperadamente apagar com gritos os incêndios que lhes consomem os haveres. A lei que existe não funciona porque obriga o proprietário do terreno a limpar a vegetação. Obviamente que ao proprietário do terreno que reside num apartamento a 300 km dali pouco lhe interessa que as silvas que crescem no seu terreno cubram o telhado das casas da aldeia do bisavô. Portanto, a partir de agora, fica responsável por limpar o mato que se acerca da sua casa o proprio proprietário da casa. A partir daqui sempre que os bombeiros sejam chamados a socorrer habitações em perigo, o proprietário da habitação terá que suportar o custo da deslocação dos bombeiros. (Uma taxa simbólica para não sobrecarregar muito as já depauperadas populações do interior).
2 - De seguida há que começar pelo principio! E o principio é o CADASTRO!!! Existe por aí um projecto piloto onde o Estado vai "enterrar" milhões de €€€ para tentar fazer o cadastro em 3 ou 4 concelhos piloto! O projecto já começou há varios anos e até hoje "0"! Alias não é zero porque só em consultadoria a factura já deve ir bem pesadinha... Portanto, o custo do cadastro deve ser suportado pelo proprietário!!! Quem tem terrenos tem 1 ano para entregar os ficheiros num qualquer serviço com os limites da sua propriedade. No final desse período a área que não tenha sido declarada por ninguem reverte imediatamente para o Estado.

Abraço,
MDF

R+ disse...

Boas MDF, vou tentar expor um caso que particularmente afecta os meus avós.

Imagina 2 terrenos adjacentes com 2 proprietários diferentes. Um proprietário X decide contruir lá uma casa, o Y não. Então agora o Y é obrigado a ter despesa para as limpezas e ainda fica sem parte de terreno "produtivo"?

Em minha casa, quando as sebes do meu vizinho começam a crescer um pouco demais, nós ja combinamos e eu, ou o meu pai, cortamos do nosso lado. Ninguém tem de pagar nada a ninguem, basta as pessoas entenderem-se.
Cumps

Ps: isso da taxa simbólica cheira-me a incentivo a fogos postos... é como a caça à multa da polícia ;)

O Portugal Bipolar disse...

Boas,
É pá, necessito de ideias para que os agricultores se entendam na plantação de olival e vinha para áreas de 10.000 ha…
É só 1 quadrado de 10km por 10 km…
Sugestões?
Cump.

O Portugal Bipolar disse...

Boas MDF,

Os fogos serão incluídos brevemente no "Novo programa de Governo (aumento de receitas), quanto ao cadastro é realmente muito importante e como quase tudo o que é importante, está por fazer.


Cump.

R+ disse...

Boas Jony, acho que cá em Portugal isto só funciona com subsídios para comprar jipes, ou então obras que originam aquelas derrapagens conhecidas... Só quando andarmos a morrer de fome é que se vao lembrar de apostar na agricultura.

Outra coisa: não seria melhor diversificar as culturas nacionais? É que só se fala da cortiça, vinho e azeite, mas então e os cereais? As monoculturas são potencialmente perigosas, e sempre ficavamos um pouco mais protegidos da necessidade das importações.
Cumps

Alguém daqui usa o mozilla firefox? é que nao consigo inserir comentarios com esse browser... só com o explorer. que estranho

O Portugal Bipolar disse...

Boas R+,


Ainda no início das minhas pesquisas agrícolas...
Posso apenas adiantar que para Portugal ser autossuficiente em cereais faltam 80.000 ha de terreno cultivado..."Só" 80.000 ha, un rectângulo de 10km por 80km.
Julgo que as elevadas necessidades de água e o preço cobrado pela EDIA não convida propriamente á plantação de cereais, mas tenho de pesquisar mais...

Anónimo disse...

Genericamente gostei muito da ideia. No entanto julgo que grandes áreas de monocultura apresentam desvantagens, mesmo quando estamos a falar de oliveiras e vinhas. Será que teria sentido espalhar, por exemplo, uns sobreiros e azinheiras? E a bolota também é útil para a alimentação do gado...
José

O Portugal Bipolar disse...

Boas José,
Não se deve considerar um terreno de 502 hectares como “grandes áreas” agrícolas.
502 ha de terreno é um rectângulo com 2.5km por 2km.
Sobreiros e azinheiras devem existir em propriedades, de preferência mais vastas com solos classe E (solos muito fracos) é o caso do montado alentejano que os sobreiros podem ser plantados/mantidos 120 por hectare. Serve para alimentar o porco preto e dá cortiça.

Anónimo disse...

Olá,
A observação sobre as monoculturas têm a ver com os seguintes factores: propagação de pragas, propagação de incêndios, protecção dos solos, nichos para aumento da diversidade ecológica... Tenho a noção de que a área referida poderá ser grande ou pequena em função do subfactor que esteja a ser apreciado.
No entanto confesso que estou muito longe de ser um especialista em dendrologia ou pedologia, e por consequência admito que a minha nota anterior possa ser desprovida de qualquer sentido.
Abraço,
José

O Portugal Bipolar disse...

Boas José,

Eu não tenho grande consideração para com os "Especialistas".
Repara que o nosso Presidente é "Especialista" em finanças e nos últimos 20 anos tem estado nos mais altos cargos do país (min. finanças; 1º ministro e presidente) e os resultados são o que são...
Julgo que todos temos direito a opinar, pois é com opiniões diferentes que o mundo "pula e avança".
Eu também não sou especialista em dendrologia; pedologia ou edafologia, mas gosto de opinar;).


Anónimo disse...

Touché!
:-)
José